quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

São Francisco, um santo forjado pela fé e pela vida!


Frei Sidney Guedes, ICAME


Francisco conta que no episódio com o leproso, o que até então era amargo se tornou doce e ele o amou e beijou com carinho maternal. O horror das chagas se transformou no brilho dos olhos de Jesus, esposo querido que Francisco e os seus, nunca mais quiseram se apartar. Jesus mudou o foco daquela vida, até então fútil e ambiciosa. Francisco era mais um jovem em busca de sonhos e conquistas, no entanto, suas metas visavam atender apenas ao egocentrismo que até então pairava em sua personalidade.

Muitas vezes, construímos uma visão extremamente romântica de São Francisco de Assis. O vemos como aquele que andava entre os animais, que a todos anunciava o amor e a cortesia sem, com isso, percebermos a grandeza do esforço e as dificuldades imensas que forjaram esse caráter santo que hoje ilustra os nossos românticos sonhos franciscanos. Francisco viveu duas grandes e terríveis crises que ajudaram a amadurecer sua alma e construir sua forma de ser e de viver tão almejada por muitos até os dias de hoje. Viu serem jogados por terra seus sonhos de conquista e poder. Lutou e perdeu! Esteve preso e no cárcere pôde perceber a fragilidade das ambições humanas diante da imensidão misericordiosa que é o Pai. Tendo comprada a sua liberdade por Pedro Bernadone, seu pai e estando doente e fraco, passou por profunda reflexão que ainda não foi suficiente para removê-lo de seus sonhos juvenis. Nova empreitada bélica surge diante de seus olhos e novamente o sonho de ser nobre excita aquele homem ainda confuso sobre as coisas de Deus.

Porém, o Pai atuou diretamente em sua história. Já amaciado pela dor e pelos horrores do cárcere, o seu íntimo já se colocava em condições de receber o sopro irresistível do Espírito Santo que o atraiu e “capturou” definitivamente. O episódio com o leproso foi o divisor de águas que marcou tal transformação, no entanto, foram momentos e mais momentos entre grutas e solidão, escárnio e opressão até que ele enfim se tornou líder de uma fraternidade que hoje é universal e transcende em muito os limites da igreja. A ordem iniciante sofreu muitas dificuldades (exploração por sua mão de obra barata, indiferença, humilhações e expropriações de seus espaços e de atuação e louvor, etc.), porém se manteve firme até ser reconhecida como comunidade santa.

Porém, como Francisco mesmo relata, a partir de seu reconhecimento e legitimação aconteceram os piores momentos para aquele grupo iniciante e sonhador: o crescimento indiscriminado, a vontade de arrefecer a forma de vida que eles levavam e os diversos tipos de dificuldades provindas de todo grupo que se engrandece, geraram em Francisco uma crise muito mais avassaladora do que a primeira por ele vivida. Se na primeira crise o perfume divino o inebriava, na segunda, as trevas da dúvida o assolaram de forma dolorosa e cruel. Francisco teve dúvidas, medos e a sensação de que tudo que vivera e propagara não passava de loucura demoníaca e sem sentido. Foi o pior momento! Geralmente pensamos que os santos nascem e morrem com a aura da santidade, sempre com a melhor resposta e atitude para todos os questionamentos humanos. Não! A santidade se constrói a duras penas, com suor, medos e dúvidas!

Quando tudo parecia perdido para aquele homem sedento de Deus e de paz, surge à figura de Clara para acolhê-lo e recolocá-lo no caminho da fé e da confiança. Às vezes pensamos em Santa Clara como bela coadjuvante no franciscanismo nascente, porém ela foi uma protagonista fundamental para dar rumo à fraternidade que nascia. Dela foi o conselho a Francisco para não se enclausurar e viver uma vida apenas contemplativa, como também foi dela o apoio firme, como necessitava a ocasião, para que Francisco saísse do caos em que se metera.

No monte Alverne, Francisco retomou a força e a fé ao receber os estigmas de Cristo como prova de sua aliança com Ele, no entanto, se subiu até lá foi graças ao impulso de Clara e ao apoio humildíssimo de Frei Leão, tudo movido é claro, pela ação do Espírito Santo.

Enfim, nunca poderemos falar em franciscanismo sem falarmos de fraternidade e comprometimento entre nós, pessoas simples que querem abraçar esse tipo de vida. Só existe vida franciscana, onde há apoio mútuo e cuidado maternal uns pelos outros e respeito e obediência as instâncias da Igreja. Sem os olhos do outro não há fraternidade franciscana, pois os olhos do outro são os faróis que sustentam o ideal franciscano.




Paz e bem!

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